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terça-feira, junho 29, 2004

A história, como ela precisa de ser contada.

Mais do que a impopularidade, incomoda-me a falta de notoriedade. Tal como os que buscam a fama, também eu quero andar na boca suja e cariada do povo. Quero ouvi-la balbuciar "O Criador" nos tascos e nos talhos. Bem sei que no meio na confusão e estupidez popular, muitos se me referirão como "O Fiador" ou "O Grelhador", mas eu não me importo. Basta que tentem pronunciar o meu nome.

Quer me vejam como um charlatão em uniforme de Messias, quer me vejam como o "super-homem" de Nietzsche, quer me amem ou odeiem, ou as duas coisas conforme o clima (qual Scolari do transcendente), quero é ser visto como a figura incontornável que sou.

Mais do que carinho popular, que não me interessa muito (não me estou a ver a tolerar beijos de velhotas com bigodes, nem a ser perseguido por adolescentes excitadas), estamos a falar de audiometria blogoesférica.
Os números do Sitemeter não mentem. Bem sabemos que a nação dos Ondulados é uma forma alternativa de estar na sociedade. Mas eu não caio na hipocrisia dos artistas falhados, que dizem que o querem mesmo é não vender!

Incomoda-me saber que não consigo ombrear em popularidade cibernética com tipos balofos e barbudos como o Pacheco Pereira e o Francisco José Viegas. E desconheço qualquer receita para o conseguir. Não basta ser amado, porque o primeiro não o é. Ser odiado também não é o segredo, porque o segundo é demasiado simpático. Ser sensato também não é o caminho, porque "O adufe" é uma ode ao comunismo e tem audiência. E eu nunca conseguiria ser sensato e muito menos comunista!

No entanto, há algum tempo atrás, tive uma pista:
experimentem fazer uma busca no Google com as palavras censurado e ostracizado. Qual é o primeiro resultado? Voilá! Ondulados!

Não quer dizer que eu tenha sido censurado ou ostracizado. Mas mencionei a possibilidade. E tudo o que se diz na net, de uma forma ou de outra, acaba por se tornar uma realidade.

Se de hoje para amanhã, um qualquer miúdo do secundário resolver fazer um trabalho sobre censura e recorrer a uma pesquisa na Internet, vai constar do documento o nome d’O Criador, constituindo a sua censura, a partir dessa data, um facto histórico inquestionável.

Este raciocínio ficou por cá, a marinar, na perspectiva de perceber em que medida esta subversidade poderia servir o terrorismo literário.

Pois bem, meus amigos: estais prestes a conhecer a resposta. E ela vem sob a forma de uma biografia d’O Criador, quase totalmente fiel à verdade. As palavras ou expressões que pretendem ser um isco para os navegadores em motores de busca como Google, Yahoo e similares, serão assinaladas a bold.

O autor desta reportagem histórica é idóneo e prefere manter o anonimato.


O Criador - A história de uma vida que mudou a história.

Não se sabe ao certo a idade d’O Criador, ou se ele sempre existiu. No entanto, desde inícios do séc. XX que se detectam vestígios inequívocos da sua presença no mundo.

Dizem os investigadores, que O Criador terá estado na génese do Futurismo e que terá inclusive privado com nomes como Fernando Pessoa e Mário de Sá Carneiro, sendo para ambos um verdadeiro conselheiro, dando dicas sobre escrita e cortando aqui e ali nas lamechices dos seus textos. Mentor da Revista Orpheu, O Criador irritava-se frequentemente com os comportamentos infantis de Almada Negreiros, a quem apelidava de "puto estúpido". Motivo pelo qual viria a abandonar, prematuramente, o editorial deste pasquim que se tornaria, nas palavras do Mestre "(...) uma ordinarice sem sentido, menos visionária que o Paulo Portas e mais corriqueira que O Meu Pipi".

Diz-se d’O Criador que desde cedo revelou um génio extraordinário e com uma opinião muito própria sobre a organização do mundo em sociedades. Há quem reclame para O Criador o mérito da autoria do conceito de Estado Novo, prontamente usurpado por Oliveira Salazar sem que o primeiro se mostrasse revoltado. Isto porque já nessa altura, O Criador planeava mais altos voos. É que ainda nem Salazar sonhava com PIDE’s, e já O Criador tinha andado à estalada, pessoalmente e sem rodeios, com o próprio Estaline no interior do Politburo em 1935, por motivos de dívidas de jogo do segundo. Facto que viria a abalar a legitimidade do seu poder no seio da URSS, mas que graças à censura, jamais viria a transparecer para o Ocidente. Foi, no entanto, no rescaldo dessa humilhação e como um grito de revolta, que Estaline decretou O Grande Terror, numa demonstração machista de força.

Desiludido com a falta de fairplay dos estadistas mundiais, O Criador tornou-se um estudioso.

Como resultado, em 1944 O Criador arrecada em simultâneo os Prémios Nobel da Economia e da Paz, pela criação do Fundo Monetário Internacional e da coquilha, respectivamente.

Com o seu nome associado à invenção da pipoca colorida O Criador viu, igualmente, ser-lhe atribuído o Prémio Nobel da Física, num hat-trick histórico e inigualável.

No plano da culinária, O Criador destacou-se ainda pela invenção da batata frita ondulada e das amêijoas à Bolhão Pato.

Alguns historiadores orientais, fundamentam a complexa teoria que O Criador é a 14ª reencarnação do Príncipe Chenrezig, o Avalokitesvara, o portador do lótus branco. Ou seja, oficialmente deveria ter sido O Criador a envergar as vestes do Dalai Lama. Lugar de que prescindiu a favor de Tenzin Gyatso, por admitir que o seu mau génio entraria de alguma forma em conflito com os Ensinamentos de Buda e achar que a meditação é coisa de rôto. Para além do mais, desde cedo O Criador se recusou a admitir a existência de qualquer entidade em patamar hierárquico superior ao seu, dentro do plano transcendental.

Foi aliás por pensar dessa forma, que numa brincadeira quase inocente, resolveu pairar sobre uma oliveira com um manto na cabeça em 1910, pensando que assustaria três pastorinhos, que reagiram com uma estranha e inexplicável serenidade. Acedendo ao pedido das crianças no sentido de lhes dizer algo na primeira pessoa, que pudesse provar a existência desse encontro com uma suposta Santa, O Criador disse o que lhe ocorreu a cada um dos irmãos. Daí que o terceiro segredo de Fátima esteja curiosamente, relacionado com Niki Lauda.

Após o período das grandes guerras e depois de ter tomado conta de Adolf Hitler nos seus derradeiros meses de vida, O Criador aproveitou o clima de paz para voltar a estender o seu génio às artes e à cultura. Nomeadamente ao movimento pop. Como forma de piropo a Brigitte Bardot, com quem supostamente terá tido um caso (apenas pelo sexo), O Criador inventou a boneca Barbie, vendendo a patente à Mattel. Os esquiços, de traço fino e cuidado, que criou para a construção do protótipo, terão inspirado Roy Linchenstein.
Mais tarde, O Criador ter-se-á dissociado voluntariamente do movimento Pop, por achar que "Keith Hearing e Andy Warhol confundiam corrente com comboio e fizeram deste movimento uma rabichice sem precedentes, de proporções capazes de chocar até Raul Indípo".

O Criador divorcia-se desta forma da Pop, mas não sem antes inventar o Super Pop Limão e o Pop Cross, respectivamente um lava louça e uma modalidade automobilística que consistia em destruir vários Citroën 2CV numa pista de lama. O automobilismo terá sido, aliás, uma das maiores paixões d’O Criador, que esteve por trás de um dos mitos da modalidade e na base de um dos segredos mais bem guardados da História. Fontes próximas da equipa Ferrari nos anos 70, afirmam peremptoriamente, que Niki Lauda jamais voltou a sentar-se ao volante dum Fórmula 1 depois do terrível acidente de que foi vítima. A partir daí e por uma questão de marketing, O Criador terá sido duplo do lendário piloto, no intuito de alimentar o heroísmo deste último e não empobrecer o ambiente da modalidade. Situação ideal para o Mestre e Deus do volante que, desta forma, pôde divertir-se mantendo intacto o seu anonimato. De realçar que, neste papel, O Criador conquistou duas vezes o lugar mais alto do campeonato de pilotos em 1977 e 1984.

A carreira desportiva d’O Criador foi abortada em 1988 após este ter batido todos os records nos apuramentos para a prova dos 100 metros dos Jogos Olímpicos de Seul. Acusado pelos júris de ter feito uso do dom da ubiquidade, na partida e na chegada, adulterando os princípios desportivos da modalidade, foi expulso da competição. O Criador, afirmou mais tarde que a sua intenção terá sido apenas alertar para a lacuna nos regulamentos da prova.

A partir de então, o Mestre terá dedicado a sua vida a tudo e a nada, nunca se concentrando apenas numa actividade. E apesar de entusiasmado com a sua ideia de criação do sistema operativo Windows, O Criador não perdeu mais do que duas semanas com a informática que considera enfadonha. No entanto, nessa quinzena, deixou ainda acabados os projectos para o desenvolvimento do Deep Blue.

Quase contemporânea, mas de alguma forma mais interessante, foi a sua ideia de inventar Britney Spears. Um mix de Barbie com Barriguitas, que não foi mais do que uma chamada de atenção para a futilidade da juventude actual mas que, apesar de pretender caricaturar essa falta de valores, acabou por tornar-se um sucesso. Ironia essa que diverte O Criador.

Por constatar que neste século, Deus e Justin Timberlake têm praticamente o mesmo peso histórico, O Criador percebeu que sua forma de marcar o mundo teria de ser, forçosamente, mais subversiva e inventiva. E ao fim de 18 anos de reflexão, nascem os Ondulados. Período no qual, a única criação mediática do Mestre, que serviu como mero passatempo de férias, foi a invenção de Merche Romero (não é por acaso que uma mulher daquelas surge do nada e já com 30 anos, sem que alguém consiga explicar o fenómeno).

Fica assim contada, resumidamente, parte da história de uma vida que mudou a história. Se Jesus Cristo influenciou a história durante 2004 anos com meia dúzia de truques que quase ninguém viu, imaginem até onde pode ir O Criador.


Historicamente,
O Criador



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segunda-feira, junho 21, 2004

O dia em que a minha vida mudou.

Já tinha bebido uns canecos com a malta do centro de emprego. Talvez por isso me tenha entusiasmado com um jogo que nem sequer era da minha equipa. Como não tinha bandeira, cachecol ou boné com aquelas cores e com a extraordinária capacidade de improviso que me caracteriza, enfiei um saco do Continente na pinha e desatei a correr. Lembro-me vagamente de ouvir os insultos da minha sogra. É que na zonza euforia, parti um Santo António de porcelana e bati de raspão no cabide, que foi bater na ombreira da porta. Embati ainda num marco do correio e mais tarde naquilo que me pareceu, distintamente, a Estação de São Bento.
Corri, corri e corri, em círculos. O que me levou a escorregar por mais que uma vez no meu próprio vómito.

Não sei bem o que se passou, nem por onde andei. Só sei que hoje, acordei num lugar que não conhecia. Muito melhor que a porcaria de país onde vivia! Abri os olhos e vi, aos pés da cama, uma bonita bandeira de cores fortes. E outra logo adiante.
Do nada, surge uma enfermeira lindíssima. E digo-vos que, aqui, o serviço público de saúde funciona! Porque neste país as pessoas são felizes e gostam todas do que fazem. É aliás por isso que, neste país amam a Pátria, Deus e a Família. Porque neste país vale a pena andar de cabeça erguida! Neste país, sorri-se no trânsito e tratam-se as pessoas por "O Sr. Se Faz Favor". Neste país nem se cospe no chão, nem há grandes excrementos nos passeios. Não há doenças venéreas e, praticamente, não morre ninguém. Neste país, os sindicalistas e os ministros beijam-se na boca.
Neste país, sim: vou começar a trabalhar e estou até capaz de me recensear!

Mas agora só amanhã, porque já foram muitas emoções para um dia só...

Contemplativamente,
O Criador
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quarta-feira, junho 16, 2004

2004, um ano de progresso?!


Nas últimas semanas têm-se visto bandeiras em todas as casas e carros, num claro sinal de nacionalismo. Simultaneamente, dá-se pancada em estrangeiros um pouco por todo o país e está programado para hoje o envio de 20 e tal indivíduos de Leste de volta para casa...

Mesmo não sendo um interessado, tenho de reconhecer que isto do futebol pode ter um papel preponderante no progresso duma nação.


Nacionalisticamente,
O Criador
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quarta-feira, junho 09, 2004

Dos fortes não reza a história.

Tenho um imenso respeito por todas as mentes criativas, independentemente da sua área de actuação. Seja na escrita, na publicidade, no futebol, no crime ou no terrorismo, quem inventa algo novo merece consideração. Principalmente os criadores de projectos arrojados.

Parem lá com as palmas, que não é de mim que vamos falar.

Estou pasmado com a invenção da semana, que promete ser o início da maior revolução de valores da história. Eu já explico.

Hoje em dia não se armam cavaleiros nem se promovem anónimos a reis por actos de bravura. Esses são tempos idos.

Aliás, hoje em dia, as nações raramente têm oportunidade de destacar personalidades por feitos heróicos ou serviços dignos à pátria.

Nisto de homenagens, há mais oferta do que procura. Senão vejamos o exemplo dos Galardões por Ordem e Mérito a atribuir pelo nosso Presidente da República esta semana:

Xutos e Pontapés como comendadores da Ordem? Se fosse só de mérito ainda poderíamos mencionar as boas acções da banda na promoção da boa disposição nos andaimes por esse país fora e mérito por incineração de drogas a bem da protecção civil. Agora, comendadores da Ordem? Que Ordem? Ordem na concentração motard de Faro? Ordem no recreio de Custóias? Ordem no CAT da Marechal Gomes da Costa?
E a propósito, alguém me diz que grande serviço à pátria prestou a Maria de Lurdes Modesto? A Vácondeus, pelo menos, ainda fez anúncios da Ideia-Casa. A primeira nem isso!

Porque terão ficado de fora figuras incontornáveis do presente e do futuro como Barrabás Amaral, Jeremias Galhardo ou O próprio Criador? Somos incómodos, não é Jorginho? Ou o menino ainda está amuado connosco?

Mas o que me pôs a reflectir sobre a relação inovação-galardões, foi a surpreendente ideia do novo governo espanhol: homenagear militares dissidentes.

Foi isso a que se propuseram ao tentar homenagear o Ministro da Defesa (um militar) pela sua eficaz retirada de tropas do território iraquiano. O Ministro, sensatamente, recusou argumentando que não se dão Medalhas a militares que retiram, mas sim a militares que ganham.

Não sei se vocês, fiéis seguidores, estão a ver bem o alcance desta ideia... Este pode ser o mote para a consagração dos imensos covardes e vencidos da sociedade portuguesa, resolvendo o problema dos excedentes de stock de medalhas de mérito.

É uma revolução de valores perfeitamente ajustada aos nossos tempos em que heróis só na televisão e, regra geral, são cães.

As potencialidades do alargamento desta ideia são imensas e, como já é hábito, O Criador é o primeiro a avançar com algumas propostas de homenagem para as quais urge elaborar os respectivos diplomas:


- Medalha de Mérito por Evasão Mediática com Bagagem em Saco Azul para Fátima Felgueiras.

- Medalha de Mérito por Bocas Foleiras e Apneia para Nuno Cardoso pelos actos de cobardia antes e após Eleições Autárquicas.

- Medalha de Mérito por Fuga à Houdini para António Guterres, pelo seu fantástico desaparecimento logo após o discurso de retirada.

- Medalha de Mérito por Melhor Abrigo Eleitoral para os Verdes por técnicas de auto-defesa em situação de sufrágio.

- Medalha de Mérito por Fuga em Marcha-atrás para Padre Frederico.

- Medalha de Mérito por Fraca Figura e Auto-flagelação para o Sporting pela sua prestação nas competições europeias.

- Medalha de Mérito por Futura Fuga Rápida para Scolari, a acontecer lá para o meio do Europeu.


Meritoriamente,
O Criador
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segunda-feira, junho 07, 2004

A vida emocional do escritor Romancista.

Por vezes há que admitir uma fraqueza ou outra. E O Criador também as tem. Uma das razões que me levaram a enveredar pelo terrorismo literário, foi a minha inaptidão para a escrita de romances. É que, vítima do seu brilho e protagonismo social, este vosso líder espiritual nunca se sente suficientemente miserável para conseguir escrever, uma linha que seja, a puxar ao sentimento. E isso leva os Ondulados a questionarem-se sobre como é que os romancistas conseguem? Como é que eles alimentam a inspiração mesmo quando não há sofrimento?

Vamos imaginar esta situação: um rapazinho muito sensível e sem jeito para as mulheres decide-se escrever sobre os seus sentimentos e desventuras. O seu estilo genuíno traz-lhe o sucesso e a ribalta. Com ela vem a auto-confiança e o dinheiro.
Quando se dá conta, está na cama com duas boazonas! E pronto! Morte do artista respeitável e nascimento do playboy fútil, comercial e árido de pensamentos românticos.
É a mesma coisa que pôr uma anoréctica a vender produtos Herbalife.

É a ordem natural das coisas. Não há como evitá-la.

Como é que, por exemplo, o Lobo Antunes - verdadeiro Mestre da Depressão - se manteve inspirado todos estes anos? O que é que o mantinha naquele estado depressivo tão inspirador? A mulher dele seria uma cabra? Ou era ele que trabalhava nesse sentido?

Imaginem o cenário:

Lobo Antunes chega a casa e a mulher preparou-lhe um bolinho de chocolate e um copo de leite fresquinho e recebe-o com um doce abraço. António, tentando não perder a expressão carrancuda, vira-se para ela e grita:

"Foda-se, tás parva? Que é que tu queres? Destruir-me a carreira? Tu não vês que é esta merda de feitio que nos paga as contas?" E daí o inevitável divórcio...

Suponhamos agora que Tolstoi estava a dez páginas da conclusão do imenso e triste "Guerra e Paz". Cansado, ia até ao café por baixo de casa onde pedia um pingo e meia torrada com pouca manteiga.
Nisto, entra uma miúda bronzeada e de ombros à mostra e lança-lhe um desarmante:
"Já não nos vimos antes?"

Pumba! Tudo por água abaixo! Noites e noites de inspiração pelo cano e menos um marco na história da literatura. Como é que ficava o livro? Dava-lhe um final feliz?

O mais certo era acabar os dias a coser meias e a mudar fraldas, com um sorriso ridículo e as gavetas forradas com 1790 folhas escritas e a cheirar a mofo.


Desinspiradamente,
O Criador
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quarta-feira, junho 02, 2004

O Evangelho segundo o Criador.


"Isso é blasfémia!" - disse Ele.
"Eu chamo-lhe marketing!" - respondeu O Criador.

E desta forma terminou, infrutiferamente, mais uma ronda de discussões acesas entre os dois opinion-makers do transcendental.

Devo confessar que, até eu lhe apresentar esta ideia pioneira, a conversa até estava a ir bem. Mesmo tendo em conta que discutimos alguns temas quentes como o paladar das hóstias e a Inquisição (finalmente fiquei a saber de que são feitas as hóstias, mas o código deontológico impede-me de o revelar).

Quando O confrontei com o disparate cometido com a Inquisição, Ele até se saiu bem. Desculpou-se com o argumento de que uma grande facção da opinião pública o havia pressionado, no sentido de por fim a esse espectáculo de luz e cor, que constituía uma das poucas cerimónias religiosas com um público fiel.

E foi, precisamente, quando falávamos de fiéis demissionários que tive mais uma ideia, naturalmente genial.

Muito se tem falado sobre a necessidade de modernizar a Igreja enquanto instituição. No entanto, O Criador não acredita que tal reforma passe pela liberalização do preservativo ou do aborto. A Igreja contempla as prostitutas na Bíblia e isso, para mim, é mente aberta quanto baste. A minha dica ia noutro sentido, que permitia também auto-financiar as actividades cristãs:

www.valha-tedeus.com

Um espaço transcendental virtual (eu sei que isto é um bocadinho pleonásmico).

O conceito consiste num portal evangélico direccionado tanto àqueles que, fruto da agitação da vida moderna, não têm tempo para idas a templos e sermões, mas também para aleijados e pessoas com tendência a adormecer na missa.


E o que é que tem para oferecer este templo virtual? Naturalmente, tudo o que um bom site tem para oferecer.

- Serviços on-line: baptismos, comunhões e outros (com emissão de certificado em formato ".doc" para impressão)
- Confissões via e-mail com envio da penitência em 24 horas.
- Toques de telemóvel com carrilhões
- Wallpapers com vitrais
- Um fórum onde se contam anedotas sobre muçulmanos
- Jogos em flash baseados nas passagens bíblicas de perfil mais "blockbuster"
- Secção de promessas, onde é possível alugar um peregrino para cumprir a nossa promessa (pagamento Internet via MasterCard ou American Express)


Na secção de compras poderiam ser adquiridos os seguintes produtos:

- Garrafas de 33cl de água benta sem conservantes
- Colecção de medalhas "Grandes Exorcismos do sec.XX" (da Fillae e em prata de lei)
- Absolvições de pecados (com tabela de preços em formato ".pdf")
- T-shirts com a inscrição: "13 DE MAIO - Eu Vou!"
- Marcação de cerimónias
- Bíblias autografadas pelo Arcebispo de Braga e pela Irmã Lúcia


Na secção Globos de Hóstia (galardões a atribuir anualmente com votação on-line):

- Prémio Pároco do Ano
- Prémio Evento (para a cerimónia religiosa mais exuberante)
- Prémio Elegância (para o pastor mais bem vestido)
- Prémio Revelação para Acólitos
- Eleição da Miss Acólita (com uma extensa galeria de fotos)
- Grande Prémio Papa-hóstias
- Prémio Cura Milagrosa do Ano
- Prémio "Vade Retro" (para o exorcismo do ano)
- Prémio Carreira para Santos
- Prémio "É uma jóia de moço" para consagrar o adolescente cristão com o comportamento mais exemplar.


Isto é só a ponta de um projecto que eu penso ser a solução por medida para as preocupações dos católicos e para a fidelização de fiéis. Eu oferecia a ideia! Agora, quem a quiser, paga.

Depois não digam que a culpa foi d’O Criador.


Indignadamente,
O Criador
Postas-[ postas.]

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