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segunda-feira, junho 07, 2004

A vida emocional do escritor Romancista.

Por vezes há que admitir uma fraqueza ou outra. E O Criador também as tem. Uma das razões que me levaram a enveredar pelo terrorismo literário, foi a minha inaptidão para a escrita de romances. É que, vítima do seu brilho e protagonismo social, este vosso líder espiritual nunca se sente suficientemente miserável para conseguir escrever, uma linha que seja, a puxar ao sentimento. E isso leva os Ondulados a questionarem-se sobre como é que os romancistas conseguem? Como é que eles alimentam a inspiração mesmo quando não há sofrimento?

Vamos imaginar esta situação: um rapazinho muito sensível e sem jeito para as mulheres decide-se escrever sobre os seus sentimentos e desventuras. O seu estilo genuíno traz-lhe o sucesso e a ribalta. Com ela vem a auto-confiança e o dinheiro.
Quando se dá conta, está na cama com duas boazonas! E pronto! Morte do artista respeitável e nascimento do playboy fútil, comercial e árido de pensamentos românticos.
É a mesma coisa que pôr uma anoréctica a vender produtos Herbalife.

É a ordem natural das coisas. Não há como evitá-la.

Como é que, por exemplo, o Lobo Antunes - verdadeiro Mestre da Depressão - se manteve inspirado todos estes anos? O que é que o mantinha naquele estado depressivo tão inspirador? A mulher dele seria uma cabra? Ou era ele que trabalhava nesse sentido?

Imaginem o cenário:

Lobo Antunes chega a casa e a mulher preparou-lhe um bolinho de chocolate e um copo de leite fresquinho e recebe-o com um doce abraço. António, tentando não perder a expressão carrancuda, vira-se para ela e grita:

"Foda-se, tás parva? Que é que tu queres? Destruir-me a carreira? Tu não vês que é esta merda de feitio que nos paga as contas?" E daí o inevitável divórcio...

Suponhamos agora que Tolstoi estava a dez páginas da conclusão do imenso e triste "Guerra e Paz". Cansado, ia até ao café por baixo de casa onde pedia um pingo e meia torrada com pouca manteiga.
Nisto, entra uma miúda bronzeada e de ombros à mostra e lança-lhe um desarmante:
"Já não nos vimos antes?"

Pumba! Tudo por água abaixo! Noites e noites de inspiração pelo cano e menos um marco na história da literatura. Como é que ficava o livro? Dava-lhe um final feliz?

O mais certo era acabar os dias a coser meias e a mudar fraldas, com um sorriso ridículo e as gavetas forradas com 1790 folhas escritas e a cheirar a mofo.


Desinspiradamente,
O Criador
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