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terça-feira, dezembro 21, 2004

Tem lume?


Hão-de os meus leitores ter estranhado, com certeza, tão prolongada ausência.
A verdade é que, por uma alguma razão ou sem ela, tudo tem um fim. É uma triste verdade, muito embora eu me esteja a borrifar para isso (Não sei como é que alguém se pode borrifar. Será que é como quem põe Febreeze na roupa?). Estou-me a borrifar para o fim das coisas, em geral, porque os Ondulados é que não acabam de certeza. (Já vos avisei mais do que uma vez para não cairem nesta do fim e mais não sei quê...).

Tenho sim, andado ocupado a observar e a tentar digerir as coisas que vejo a partir do meu posto de omnipresença.

É certo e sabido que se vive uma época conturbada no plano político. Mas isto apenas nos países onde existe Governo e oposição, por isso é menos um problema para nós. Mas este último ano tem também sido sinónimo de agitação social. Mas, como se sabe, o conceito de sociedade só se aplica a seres racionais pelo que, uma vez mais, podemos respirar fundo.

É, no entanto, um certo clima de instabilidade que tem mantido afastado O Criador.

Há alguns dias disse-vos, em forma de comentário, que procurava descobrir uma maneira de dissolver o Presidente da República. Se me perguntam porquê, eu respondo como ele responderia: "Os Portugueses sabem do que eu estou a falar". E tal como ele, espero que se lembrem de qualquer razão e depressa. Caso contrário, vou ter de passar a enumerar. Mas se pensarmos bem, pelas leis de Jorge, há imensas razões para dissolver um governante: há uma rua em Santa Maria da Feira com uma tampa de saneamento partida, 2 ciganos no Barreiro a quem não foi atribuída nenhuma habitação social, três meninas com pé de atleta em Mira, um senhor sem Porsche em Azeitão e uma vaca coxa em Fornos de Algodres. Mas adiante...

Depois de feitas experiências com vários tipos de químicos e, concluindo que nenhum tornaria o sujeito mais desfigurado do que ele é, ocorreu-me uma ideia tipicamente Ondulada, com vista à concertação social e à harmonia entre povos, com a já aclamada chancela d’O Criador.
Os tempos são maus, há por aí muita gente parva ou chatinha ou até mesmo simples desgraçados a tornar pesada a nossa sociedade. Pensei então e, já que estamos em época de festas, em organizar uma pequena Inquisição. Assim uma coisa sem grandes alaridos. Só para amigos.

Como em qualquer churrasco, cada um deve trazer qualquer coisa para tostar. Seja um delegado sindical, um membro do Jet-set nacional, um adepto do tunning, um membro de claque ou um jornalista da TVI, o importante é contribuir para esta grande e higiénica manifestação em prol da saúde pública´, que é também uma óptima desculpa para beber uns copos.

É sempre bom recuperar a designação de Inquisição, pelo saudosismo que possa despertar. No entanto, de inquisição temos apenas o nome, pois aqui não se fazem perguntas nem se dão respostas. Se alguém perguntar porque sente os pés quentes e lhe cheira a chispe, argumentamos com um peremptório "Tu sabes porquê. Nem vale a pena enumerar!".

É por esta altura e, apesar da euforia generalizada da nação Ondulada, que vocês pousam as acendalhas para perguntar o que é que estamos a comemorar. Ao que eu respondo, assertivamente: "A estupidez e a demência."

É que nos últimos meses, tem sido impossível não reparar que vivemos um momento de apoteose da parvoíce e da insensatez. Ou seja: isto está como eu gosto!

Ele é ministros recém-empossados de penteados exuberantes a entrar de chancas e a ameaçar arremessar objectos pela janela para depois serem a eles próprios a voar pela mesma, balbuciando disparates...
Ele é comentadores políticos que se chateiam com os cunhados que por acaso são donos da estação de televisão em que trabalham e saem amuados fazendo queixinhas estragando o clima da ceia de Natal à família...
É o presidente do F.C. do Porto a lançar livros...! (Parece que já estou a imaginar um Super Dragão com aquilo na mesa-de-cabeceira, junto ao terço, e a fazer citações de cabeça de passagens do calhamaço. "Olha, óbe lá! Olha que como diz o Jorge Nuno no salmo 12, página 110 no episódio da travessia do Trancão: Num alugarás a mulher ao próximo porque senão estes demos das trebas ficum a saber e depois amandom-se a ti nas cunferências de imprensa."
Ainda no futebol, ele é adeptos que insultam árbitros com tal vontade, que se atiram de bancadas superiores num inédito espectáculo de hara-kiri desportivo. E melhor ainda, os jornalistas a afirmarem que a culpa é dos estádios que são perigosos. (Então deviam também encerrar os teatros. Já viram a altura daqueles camarotes?)

É, aliás, a estes últimos (os jornalistas e não os camarotes) que quero dirigir grande parte do meu nojo. Expelir nojo é, como sabem, um dos hobbies favoritos d’O Criador. E tenho isso em comum com os jornalistas. O que nos separa é que estes chegam, inclusivamente, a tornar-se eles próprios numa imensa amálgama de nojo com pose televisiva.

É tal a sobriedade e a contenção do jornalismo que, neste momento, as leis são publicadas primeiro no 24 Horas e só depois no Diário da República. Veja-se o caso do extremamente determinado Presidente da República, que governa em função de headlines de jornal, tornando-se na menos credível marioneta mediática de sempre, ex aequo com o filho de Gepeto. No fundo, talvez isto de ser manipulado já lhe esteja no sangue, uma vez que com uma mulher daquele tamanho e com o ar viril que o caracteriza, a vida pessoal do coitado deve ser feita de tudo menos de livre arbítrio.

Sendo assim e a continuar o panorama jornalístico favorável a cataclismos e envenenamentos públicos com tinta de offset, sempre se podiam arranjar melhores bonecos para colocar nos assentos da Assembleia da República. Era uma boa forma de tirar do desemprego alguns bons actores nacionais que já não se importam de se submeter a palhaçadas ao estilo Batanetes. Senil por senil, sempre se podia substituir o Jerónimo de Sousa pelo Raul Solnado (com o bónus do espectáculo da baba). E dramático por dramático, substituía-se o Louçã pelo Ruy de Carvalho, que é mais homenzinho e sempre saca mais aplausos do que gargalhadas. Palhaço por palhaço, mandava-se o António Costa para o nosso churrasco e punha-se lá a Inês Castelo Branco que sempre tem mais que se veja. Betinho por betinho, ia-se o Portas e vinha a Catarina Furtado.

Este é um cenário sempre preferível à previsível entrada em cena de Manuela Moura Guedes a presidir ao Parlamento.

Quem já percebeu há muito arte de "comer a cabeça" aos jornalistas, foi a fashion victim com nome de filósofo grego. Ouvi no outro dia José fazer um discurso interessantíssimo e bucólico, de que passo a citar um trecho:

"(...) Estou apostado em implementar um socialismo moderno e progressivo, (...) quero dar às famílias portuguesas as condições de vida que merecem e pelas quais tanto se sacrificaram nestes últimos anos. (...) Vou trabalhar por mais justiça social para os portugueses. (...) Pretendo diminuir o emprego precário e melhorar a situação em que está mergulhada a função pública. (...) Um Governo de maioria socialista irá dar especial atenção à solidariedade, que é um dos pontos base duma política de socialismo moderno. (...) Quero o fim das pensões de miséria que desde há muito tem colocado famílias em situações de grande dificuldade. (...) Proponho também o regresso ao projecto da co-incineração como solução para o ambiente. (...) É preciso inverter esta política de desgoverno que está a atirar o país para a pior situação social e económica que alguma vez se viveu (…) É por isso que peço aos portugueses uma maioria expressiva... (...) ... porque só assim é possível governar com estabilidade e implementar reformas de fundo. (...) Pretendo promover este clima de diálogo e de clareza na forma de agir do governo."

Nada mal, se não soubermos que onde estão reticências estavam originalmente perguntas de Judite de Sousa, e que isto supostamente era uma entrevista e não um monólogo. O que se ouviu na íntegra foi antes qualquer coisa como isto:

"Boa noite Doutor José Sócrates. Estou apostado em implementar um socialismo moderno e progressivo, Sim, mas a entrevista propriamente dita ainda não começou, se quiser aguardar pela primeira pergunta... quero dar às famílias portuguesas as condições de vida que merecem e pelas quais tanto se sacrificaram nestes últimos anos. E qual é a sua análise política da dissolução da Assembleia da República? Vou trabalhar por mais justiça social para os portugueses. Sim, mas a minha pergunta ia noutro sentido... Pretendo diminuir o emprego precário e melhorar a situação em que está mergulhada a função pública. Mas, já agora, quais são as medidas em concreto que pretende tomar para esse efeito? Um Governo de maioria socialista irá dar especial atenção à solidariedade, que é um dos pontos base duma política de socialismo moderno. Mau! Queres brincar, é? Quero o fim das pensões de miséria que desde há muito tem colocado famílias em situações de grande dificuldade. Ai queres? E não queres que te despeje este copo água no focinho? O que é que fazes? Proponho também o regresso ao projecto da co-incineração como solução para o ambiente. O que é que é preciso para te calar, meu cabrão? É preciso inverter esta política de desgoverno que está a atirar o país para a pior situação social e económica que alguma vez se viveu. Tás-me a sair um filho da putinha insuportável! É por isso que peço aos portugueses uma maioria expressiva... Tás-te mesmo a cagar para os jornalistas não é? ...porque só assim é possível governar com estabilidade e implementar reformas de fundo. Olha vai p’rós colhões! Fala para aí que eu vou fazer compras de Natal! Pretendo promover este clima de diálogo e de clareza na forma de agir do governo."

Com tanta razão para optimismo, o melhor que podemos levar da vida é mesmo o convívio entre amigos e a galhofa. E por falar nisso, quem traz as bebidas?

Novamente,
O Criador

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