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terça-feira, setembro 07, 2004

Rentrée do quotidiano.


É com grande tristeza que começamos a ver os dias encurtar, os portugueses a andar mais vestidos e os emigrantes a voltar aos seus países de destino. Ok, pronto! É com grande tristeza que começamos a ver os dias encurtar.

E com o encurtar dos dias, volta a época de trabalho e as rotinas diárias. E o que alimenta o espírito d’O Criador são as rotinas. As pequenas coisas do quotidiano como reality shows, palestinianos a estourarem como pipocas e idas ao supermercado.

Por isso, está na hora da rentrée Ondulada.

Rentrée é uma palavra muito usada por comentadores políticos. E os comentadores políticos são um dos maiores enigmas da sociedade moderna. O que é um comentador político, donde vem e o que faz?

Eu não estou a falar de tipos como o Marcelo Rebelo de Sousa, o Miguel Sousa Tavares ou o Nuno Rogeiro. A esses conhecemos ocupações reais. O primeiro lê que nem um desalmado e frequenta praias brasileiras, duas boas explicações para os seus olhos esbugalhados. O segundo colecciona cromos de jogadores de futebol espanca sacos de areia e rói ossos de borracha para se acalmar. O terceiro escova o cabelo e colecciona aviões de guerra e soldados de chumbo dos fascículos da Altaya.

Eu pergunto-me é o que fazem pessoas como, por exemplo, a Constança Cunha e Sá (eu sei que parece haver aqui um ódio de estimação em relação a esta dócil senhora, mas não é verdade).

Para já, quem são estas pessoas a quem não conhecemos nenhum feito de vulto, para criticar pessoas que fizeram revoluções, governaram partidos, geriram autarquias ou até sacos azuis? Porque se sentem eles no direito de criticar? É a mesma coisa que pedir a Paulo Henrique Couto, treinador do Sport Clube Angrense que comente o trabalho de Bobby Robson ou José Mourinho.





Uma coisa é certa: o negócio da crítica gratuita, envenenada e tendenciosa deve ser altamente lucrativo. Eles estão em todo o lado a toda a hora. Almoçam na RTP e jantam na TSF, não sem antes lanchar na redacção do 24 Horas em amena cavaqueira.

Como é que se faz para ser comentador político? Nitidamente, passado político não é uma exigência. Por isso, onde é que a gente se inscreve para ser comentador político? Bem me davam jeito uns trocos a mais para estourar em jantares. Eu também sei mandar as minhas bocas quando quero (é uma faceta que vocês desconhecem) e há aí um ou dois políticos com quem eu gostava de acertar contas publicamente.




O lápis adivinho.

As reposições de verão estão a acabar. O que é uma pena, porque há programas que têm muito mais encanto à sexta vez. Vejamos o caso do Rex na SIC depois do almoço: o bicho já enterrou e desenterrou quatro vezes o primeiro dono. Ele já nem sabe se há-de obedecer ao cabeludo, ao cara de puto ou à boazona. É toda a gente a mandar no cão. Todos os dias um dono diferente.

O que nos vale é que a partir duma certa hora da noite, os programas deja vú preenchem os quatro canais nacionais. Vemos as séries em loop.

O programa deja vú preferido d’O Criador é o "Guiness Records". Adoro adormecer enquanto vejo aquele homem com defeito na boca anunciar os mais hediondos records como o do maior tumor benigno do mundo alojado na cabeça. Mas quê? Há competição nesse meio? Haverá gajos a fazer exercícios para desenvolver o tumor repetindo para eles próprios "Este ano aquele cabrão daquele estónio vai ver o que é um tumor a sério!"

Mas o mais caricato e ridículo deste programa é o elemento do júri que verifica os equipamentos e confere os resultados das tentativas. O homem tem aquela cara séria e aparvalhada típica das pessoas que tem prazer em fazer o papel de autoridade. Uma expressão facial que só encontra paralelo na dos funcionários das repartições de finanças.

O homem está de pé em frente a uma mesinha onde é colocado o equipamento a utilizar pelo candidato ao record em questão.

Por exemplo, no record da maior pilha de copos, este sujeito tem de verificar se os copos são realmente de vidro e se têm o peso e consistência normais para validar a tentativa.
Para verificar os copos, este homem faz uso da sua ferramenta mágica preferida: o lápis.
No canto da mesa está um copo cheio de lápis. O indivíduo saca dum deles e dá dois ou três toques com ele nos copos para ouvir o som e a reacção do material. Até aí tudo lógico e mais ou menos racional, independentemente da fidelidade desta "verificação técnica".

O problema é que o homem repete a técnica do lápis em todas as tentativas de record e em todo o tipo de objectos.

No outro dia dois indivíduos foram tentar alcançar a melhor marca mundial no arremesso e recepção de salmões à distância de 10 metros num minuto (parece parvo, mas pela alegria com que eles bateram o record deve ser divertidíssimo levar com um peixe viscoso na cara) e não é que o homem foi bater com o raio do lápis nos salmões? O que é que aquilo prova? Que os salmões estão mortos e sem reflexos? Que o peixe não está podre? O que é se pode concluir batendo com um lápis num peixe morto que não se conclua ao olhar para ele?


Rotineiramente,
O Criador



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