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terça-feira, fevereiro 22, 2005

Vade Retro Sr. Reitor!


Tenho uma máxima que prezo muito e que está presente em todos os momentos da minha superior existência. E prezo esta máxima porque fui eu que a inventei. É que de máximas populares, não gosto. Popular é sinónimo de pobre e eu não aprecio misérias. E já aqui defendi e comprovei a minha teoria de que o povo é estúpido. E se dúvidas restarem, leiam o jornal de segunda-feira. Foi de rolar a rir. Isto leva-me a uma reflexão mais ou menos rebuscada: será que o Haraquiri ainda pode ser considerado Haraquiri quando toda a assistência faz parte do suicídio? Bom, mas isto é o meu raciocínio a fugir para outros campos que nada têm a ver com o tema principal. (Estes encadeamentos de raciocínio são uma coisa típica de pessoas muito inteligentes. Não consigo evitar.)

Mas voltando à minha máxima, esta diz o seguinte: "Não me importo de estar mal, desde que haja alguém pior do que eu."
Na prática, o que significa isto? Poderão vocês, desocupados leitores, pensar que eu sou uma espécie de indivíduo egoísta e insensível que, independentemente do seu estado, se regozija na desgraça dos outros ou que alivia a consciência com o sofrimento de terceiros. Não é bem isso, mas é por aí.

Mas porque que fui eu lembrar-me desta máxima hoje? Por esta altura, muitos davam como morto este espaço de liberdade/opressão de opinião. Dizia-se que, afinal, O Criador era um falso Messias. Que os Ondulados não eram mais do que uma ferramenta de um qualquer poder instituído ou uma pura manobra de diversão com o objectivo de tirar criminosos das ruas, unindo-os no ciberespaço. Dizia-se até que O Criador não se preocupava com os seus seguidores. Na realidade, nada disso se confirma. Ausentei-me, porque fui ao WC. "Mas tanto tempo?", podeis perguntar. Com certeza. Para quem é eterno, 3 meses na latrina passam a voar.

Basicamente, caguei para o humor de campanha eleitoral, deixei passar em claro a estupidez de reveillon e até fiz mesmo um pequeno esforço para não me pronunciar sobre o regresso da Tina Turner às rádios.

Tudo isto fez com que os meus fiéis ficassem apavorados. Confrades do terror exortaram em uníssono o meu regresso, preocupados com o que seria deste mundo sem O Criador.
Meus caros: o estado dos Ondulados ainda não deve constituir para vocês motivo de desassossego. Porque, lá está, a concorrência está pior que nós. E quando falo de concorrentes meus, já se sabe que eu estou a falar daquele velhote... Deus.
Para já ele nem sequer está, como O Criador, capaz de lidar com as novas tecnologias de informação. Senão veja-se isto: www.deus.com. Uma prova de displicência para com os fiéis: pede que o contactem, mas avisa logo que não sabe português, nem arranha espanhol. Nem sequer sabe fazer sites…

Mas o mais grave estava eu por descobrir, até sexta-feira passada quando folheava (apenas com o poder da mente, que eu às vezes gosto de me armar nos cafés e as empregadas deliram com estas habilidades), um jornal diário que me presenteou com esta pérola:

Universidade inicia curso de exorcismo e satanismo.

Eu pensei que havia um Ondulado infiltrado na redacção, decidido a dar um abanão aos poderes instituídos, como que numa abertura em profundidade para a entrada d’O Criador. Afinal não. Aquilo era a sério. Quer isto dizer que a Igreja decidiu fazer uma investida contra os poderes demoníacos. Apesar do curso, evidentemente, ter muitas saídas, apenas 100 alunos se inscreveram.

Diz o Reitor da Universidade Pontifícia Regina Apostolorum de Roma, Paolo Scarafoni (pessoa de mente aberta e espírito visionário) que a formação de padres exorcistas surge num momento em que há forte preocupação em Itália em relação ao desenvolvimento do satanismo, na música, no vestuário e nos objectos. Diz também, o brilhante e astuto pensador, que "esta iniciativa inédita visa habilitar os seminaristas a distinguir entre os verdadeiros casos de possessão diabólica e os casos de problemas psíquicos". Algo que se revela extremamente útil para o seminarista que sai à noite, permitindo-lhe distinguir se está a por uma miúda maluca, ou se a está somente a possuir .
Por outro lado, permite também saber distinguir um fiel apenas tolinho, dum verdadeiramente parvalhão.

A primeira aula do curso foi dada pelo padre Gabrielle Nanni, de 46 anos, doutorado em Direito Canónico e exorcista da diocese de Modena. O professor preocupou-se em definir e desmistificar o exorcismo, explicando que é apenas um ritual destinado a "retirar o poder do demónio". É de mim ou noto aqui um ligeiríssimo contra-senso? Portanto, vamos lá a desmistificar isto: nós não vamos fazer nada do outro mundo! É só combater o demónio...

Mas a cereja em cima do bolo, vem com a nota final que diz que "o novo ritual do exorcismo, redigido em 1999, fornece certos critérios para detectar a possessão como, por exemplo, o facto de se falar línguas estrangeiras ou antigas sem nunca as ter aprendido".

Isto é um critério muito exacto e eu posso prová-lo: eu sou um gajo dos diabos e às vezes digo "stockfish mit kartoffen" e nunca aprendi a falar alemão. Devo agradecer a Scarafoni por me ter ajudado a perceber que estou possuído e não apenas estúpido, como eu já começava a acreditar.

É claro que esta teoria das línguas pode soar a algo decalcado do argumento de um qualquer filme de terror. Mas não! Isto acontece mesmo! E temos mais provas no nosso país: Mário Soares falava Francês e, claramente, passou as aulas todas no bufete da escola a devorar bolas de Berlim como se algo o possuísse. Também Amália revirava os olhos enquanto se exprimia num dialecto de língua enrolada que tem sido objecto de estudo de vários etnólogos sem qualquer resultado na descoberta da origem daquelas palavras. Esta teoria estará igualmente na base da curta permanência de Carlos Queiroz no Real de Madrid. Ele falava espanhol e era evidente que ninguém tinha tido a boa vontade de lhe ensinar.


Possuidamente,
O Criador
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